sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O porque

Eu não sei por que a amo. Cada vez mais não sei.

Pode ser pelo seu pescoço que se levanta para ganhar altura quando estamos abraçados. Ou será que é pela forma em que dobra as pernas no sofá? Ou quando se contorce em espiral com beijos nas costas?

Eu não sei por que a amo. Será que pela sua preguiça, que se enrola em mim de manhãzinha? Ou pela sua disposição de dar a volta por cima?

Eu já parei para pensar por que a amo, mas lamento, não sei. Realmente não sei. Talvez seja pelas sobrancelhas que falam antes dos olhos. Ou pelo umbigo que inicia a mão. Ou pelo copo que você balança antes de beber, para convencer a água a partir?

Tantos homens têm um motivo certo para amar, definido como um emprego, e você foi escolher logo um que nada tem a dizer.

Será que é pela carinha que você faz quando quer conseguir algo de mim? Ou pela sua vontade de cantar músicas pra que eu durma? Será que é pelo modo como dança, com os braços acenando em linhas sinuosas como fumaça de chá? Será que é pelo toque em meu joelho enquanto dirijo? Pela sua respiração suspensa na penumbra? Ou pelas nossas saídas de madrugada para encontrar sorvete em botecos? Será que me apaixonei pelo seu texto e quis ser seu personagem? Ou pela sua pressa de avisar que chegou, apertando o interfone?Ou quando diz que está com frio no cinema? Ou quando fica muda querendo voltar ou quando fica ruidosa querendo passear? Ou quando pede que eu fique em casa mordendo o lábio de cima? Ou quando me enfrenta com raiva e me diz todas as verdades sem ao menos pedir para sentar? Ou quando sopra os machucados, de quem herdou o costume de soprar machucados mesmo quando não existem? Ou quando fica bêbada e declara seu amor, mesmo que diga depois que nada do que disse era verdade? Será que é pelo sua predileção em comprar presentes, sempre dando mais do que recebendo? Ou pela tapeçaria no fundo de suas bolsas, com notas, moedas, chicletes, batons e brincos avulsos?

Será que a amo por que me irrita a viver mais? Será que a amo por que não me deixa a sós comigo?

Eu juro que não sei por que a amo. Todo dia você se acorda querendo ouvir, eu pressinto, debruçada em meus ombros à espera do sinal, do cartão, das flores. Mas não descobri e não finjo. Entenderá que faltam motivos, só que sobram motivos. E dificulta-me pensar que se ama por motivos. Ama-se por insinuações.

Será que é pelo seu medo de amar? Pela sua infância vesga? Pelos seus joelhos esfolados nos móveis? Pelo seus amores frustrados? Pela sua letra arredondada nas vogais? Pela sua insatisfação com as roupas na hora de sair? Pela ânsia em atender o telefone com a esperança de que seja eu a dizer por que a amo?

Eu não sei por que a amo. Não me fale. Quem sabe deixou de amar.

(Texto de Fabrício Carpinejar, um pouco modificado por mim!
Gravura de Sir Edward Burne-Jones)

Gustavo


2 comentários:

Anônimo disse...

Coisa mais linda, Gu!!!
=)
O que importa é que tu ama a Cacau e ela te ama; e num precisa de porque´s!
Mais se vc quiser motivos para amá-la e ela quiser motivos para amá-lo, eu faço uma lista beeeeeeem comprida pra ambos, que são 100% especiais!
=****

Anônimo disse...

Esse é o cueca mais boboxonado(mistura de bobo com apaixonado) que eu conheço!
hehehehehehehehehehehehe!
Abraço cueca!
Beijão Cacau!